quinta-feira, 28 de julho de 2011

Própolis dá capacidade antimicrobiana a materiais plásticos

Com informações da Agência USP - 06/06/2011

O extrato de própolis foi adicionado em diferentes concentrações em relação à gelatina, o que altera a eficiência e a aparência do filme plástico antimicrobiano. [Imagem: Renata Barbosa Bodini]
Pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveu um novo filme plástico para uso em embalagens de alimentos com propriedades antimicrobianas.
O material ganhou sua propriedade bioativa com a adição de própolis.
Os polímeros, mais comumente conhecidos como plásticos, são materiais que têm utilização em larga escala pela indústria e podem servir para inúmeras funções.
Plástico com própolis
Sabendo disso, a engenheira de alimentos Renata Barbosa Bodini desenvolveu seu novo material polimérico bioativo à base de gelatina e própolis
A propriedade antimicrobiana do própolis foi transferida para o filme, tornando-o ideal para a embalagem e conservação de alimentos.
A gelatina já é usada experimentalmente na produção de filmes biodegradáveis, como uma alternativa para substituir os polímeros sintéticos, como o plástico.
O primeiro passo do estudo consistiu na adição de extrato etanólico de própolis (EEP) à gelatina, para formar os filmes plásticos, o que mostrou viabilidade da ideia.
"A própolis é uma substância que possui comprovadamente propriedade antimicrobiana, e seria necessário verificar se essa característica seria mantida nos filmes, caracterizando a bioatividade", conta Renata.
Plástico antimicrobiano
A atividade antimicrobiana foi avaliada tanto no EEP isolado como nos filmes biodegradáveis.
As análises foram feitas por 177 dias, com observações a cada 28 dias, e o resultado foi positivo: a propriedade foi conservada em ambos os casos.
A pesquisa de Renata produziu um material biodegradável, com capacidade antimicrobiana e fabricado a partir de um produto natural encontrado em abundância. Deste modo, a engenheira acredita que seu estudo pode ter uma utilidade imediata.
O filme plástico antimicrobiano é formado por vários componentes: gelatina (comum), material plastificante (foram utilizados o sorbitol e o citrato de acetil tributila), álcool etílico e o extrato de própolis.
O microorganismo utilizado para colocar à prova a propriedade antimicrobiana do filme foi a bactéria Staphylococcus aureus. O EEP ainda foi testado em diferentes concentrações em relação à gelatina: 5%, 40% e 200%. Tal diferenciação foi útil, já que os resultados foram diferentes.
Quando o extrato etanólico de própolis foi utilizado em concentração de 40% e 200%, os filmes apresentaram a atividade antimicrobiana. Já na concentração de 5%, a Staphylococcus aureus cresceu sobre o filme biodegradável, demonstrando que esta concentração não tem efeito inibitório.
Cheiro de própolis
A ideia inicial era a de que os filmes biodegradáveis com propriedades bioativas pudessem ser utilizados comercialmente como embalagens, mas Renata explica que há desafios pela frente:
"O método utilizado inicialmente na produção, chamado casting, é laboratorial e por enquanto não é viável para produção em larga escala. Além disso, o própolis tem um aroma muito forte e característico que foi passado para os filmes, o que dificulta a utilização deles para embalagem.
Mas isso não significa que não haja possibilidade de uso comercial: os filmes podem ser utilizados para embalar produtos de origem animal ou podem servir de suporte para o aditivo (própolis). Mas todas essas utilizações têm que ser testadas, e serão necessárias pesquisas complementares para se avaliar o potencial de aplicação do material," conclui Renata.

O que se espera da Química no futuro?

Fábio de Castro - Agência Fapesp - 26/05/2011
Visão global

Os principais desafios contemporâneos da química não se restringem aos laboratórios.
São questões globais que envolvem toda a sociedade, como as mudanças climáticas, o desenvolvimento sustentável e a produção de energia.
Para enfrentá-los, as sociedades científicas de diversos países precisam integrar suas ações - e o Ano Internacional da Química (AIQ-2011) representa uma oportunidade única para isso.
Essa avaliação foi feita nesta quarta-feira por representantes de organizações científicas da área de Química, durante a 34ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), em Florianópolis.

Ciência benéfica para a sociedade

Durante o simpósio "Soluções integradas para o futuro - O papel das sociedades científicas", Martyn Poliakoff, professor da Universidade de Nottingham e diretor da Royal Society, no Reino Unido, afirmou que, com a mobilização em torno do AIQ-2011, a integração de ações entre as sociedades científicas de diversos países - e de diversas áreas - começou a dar seus primeiros passos.
"Pela primeira vez as sociedades de química começam a agir em conjunto. Isso é fundamental, porque precisamos ter uma mensagem bem definida para passar aos formuladores de políticas públicas, se quisermos que a ciência se transforme em benefício para a sociedade", afirmou.
Segundo Poliakoff, todos os países estão enfrentando imensos problemas locais, que têm características distintas, e os cientistas de cada país precisam encontrar soluções específicas para eles.
"Mas os políticos de todos os países têm uma coisa em comum: eles nunca acreditam no que os cientistas dizem. Isso só mudará quando perceberem que em todos os países para onde vão a mensagem é a mesma. Por isso é importante coordenar nossas ações", afirmou.

Questões globais

Terry Renner, diretor executivo da União Internacional de Química Pura e Aplicada (Iupac, na sigla em inglês), afirmou que o foco das ações da instituição - que é responsável pela organização do AIQ-2011 - divide-se em cinco tópicos: "água", "alimentos e nutrição", "saúde", "energia" e "química verde".
"São cinco questões de alcance global. Para que a discussão em torno desses tópicos seja efetiva, temos que envolver toda a sociedade e, em particular, três setores: os formuladores de políticas públicas; a indústria e outros responsáveis pela aplicação da ciência; e a própria comunidade de cientistas, em especial por meio das sociedades científicas", afirmou.
Segundo Renner, o objetivo central do AIQ-2011 é aproximar a química da sociedade, mostrando que a ciência será responsável por trazer soluções para os principais desafios globais. A imagem pública da química, no entanto, ainda permanece negativa.
"A sociedade vê a química como algo obscuro, como causa de problemas e não como oportunidade de solução. Reconhecemos que temos muita dificuldade em relação à comunicação com a sociedade. Ainda não conseguimos mostrar às pessoas que a química contribui diariamente para melhorar suas vidas", afirmou.

Química no imaginário popular

David Phillips, presidente da Royal Society of Chemistry (RSC), do Reino Unido, destacou que o lugar da química no imaginário das pessoas não corresponde à importância dessa área de pesquisa no mundo da academia e da economia.
"A RSC é a maior sociedade científica da Inglaterra. A enorme produção científica relacionada a essa área se reflete de forma inequívoca na economia do país. Mais de 21% do PIB da Inglaterra é proveniente de atividades ligadas às diversas áreas da química. Pode-se fazer uma correlação direta do PIB de um país com a sua produção científica em química", declarou.
A internacionalização das ações das sociedades científicas também foi destacada por Phillips, que citou os acordos da RSC com instituições de diversos países.
"Alguns dos principais desafios abordados nesses acordos são temas como produção agrícola, conservação de recursos naturais, conversão de biomassa, segurança alimentar, diagnósticos para saúde humana e qualidade da água potável. Estamos investindo especialmente na área de química verde, visando à preservação ambiental e design de produtos sustentáveis", afirmou.

Mundo sustentável

Vanderlan da Silva Bolzani, professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Araraquara (SP) e ex-presidente da SBQ, afirmou que o AIQ-2011 permite destacar a importância da química para um mundo sustentável, ilustrando o papel da ciência para desafios globais como as mudanças climáticas, a questão energética e a saúde.
"A comunidade científica brasileira está vendo o AIQ-2011 como uma oportunidade excelente para celebrar a contribuição das mulheres de todo o planeta para a química, enfatizar os benefícios das colaborações internacionais e estimular o interesse das jovens gerações para um futuro criativo na área", disse a professora, que coordena as atividades do AIQ-2011 no Brasil e também é membro da coordenação do programa BIOTA-FAPESP.
Segundo Vanderlan, o Brasil está fazendo sua parte ao investir em um grande esforço em áreas como mudanças climáticas e biocombustíveis, em especial com os programas da FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) e de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) e com as iniciativas dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), programa do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e das fundações estaduais de amparo à pesquisa.
"Isso mostra que estamos trabalhando para o futuro. Queremos que as conquistas desses programas para a sociedade ajudem a aumentar a percepção pública da importância da química em relação às nossas necessidades cotidianas. No âmbito do AIQ-2011, estamos também promovendo ações para melhorar a educação em química nas escolas públicas, envolvendo professores e alunos", disse.

Gelo fica fluido abaixo de -130°C

Redação do Site Inovação Tecnológica - 14/07/2011
Água extraterrestre
Quando a água é resfriada abaixo de zero grau, ela cristaliza, formando gelo.
Isso em condições normais de temperatura e pressão.
Um físico sueco afirma agora ter conseguido pela primeira vez produzir uma água que flui lentamente a 130 graus abaixo de zero.
É possível que essa água fria e de fluidez lenta exista em corpos celestes de grande massa.
Propriedades anormais da água
O físico Ove Andersson, da Universidade de Umea, fez o experimento submetendo a água congelada a uma pressão 10.000 vezes maior do que a pressão atmosférica normal.
"A descoberta é também interessante na medida que nos ajuda a compreender as muitas propriedades anormais da água. Por exemplo, foi previsto que a água teria duas diferentes fases líquidas em baixas temperaturas. A descoberta confirma a existência de uma dessas duas fases," explica Andersson.
Recentemente foi descoberta uma nova fase quântica da água, mas essas "propriedades anormais" a que o pesquisador se refere estão longe de serem totalmente compreendidas.
Água de alta viscosidade
O experimento foi feito expondo gelo cristalino comum, no qual os átomos estão dispostos de forma ordenada, a pressões crescentes em temperaturas abaixo de 130º C.
A ordem das moléculas colapsou e o gelo se transformou em gelo amorfo, com uma disposição aleatória das moléculas de água.
"Quando eu então elevei a temperatura, o gelo transformou-se em água de fluidez lenta. Essa água é como a água comum, mas sua densidade é 35 por cento maior, e as moléculas de água se movem relativamente devagar, ou seja, a viscosidade é alta," explica o pesquisador.
O estranho comportamento da água
A água tem um grande número de propriedades que fogem daquilo que seria um "comportamento normal". Por exemplo, na água congelada, ou seja, quando sua temperatura cai abaixo de zero, sua densidade diminui quando a temperatura decresce e aumenta quando a temperatura se eleva.
Esse é um comportamento totalmente anômalo em relação aos demais materiais, mas sem o qual provavelmente não existiria na Terra a vida como a conhecemos.
"Há desvios que são conhecidos há muitos anos, e eles são muito importantes. Contudo, não há nenhuma explicação geral para eles, mas a resposta pode estar na forma como as propriedades da água são afetadas quando ela é exposta a altas pressões," defende Andersson.
Fases líquidas da água
Teorias preveem que a água exista em duas diferentes fases líquidas, uma com baixa densidade e outra com alta densidade, com a transição entre as fases ocorrendo a baixas temperaturas e altas pressões.
Quando a água esfria e se aproxima dessa zona de transição, pode haver uma transformação gradual que afeta as propriedades da água e lhe dá suas propriedades estranhas.
Infelizmente, esta transformação é difícil de estudar, pois a água normalmente cristaliza.
Uma forma alternativa de estudar essa zona é primeiro criar o gelo amorfo.
As novas descobertas mostram que o gelo amorfo provavelmente se converte em água de alta viscosidade quando é aquecido sob alta pressão.
Bibliografia:

Glass-liquid transition of water at high pressure
Ove Andersson
Proceedings of the National Academy of Sciences
June 20, 2011
Vol.: Published online before print
DOI: 10.1073/pnas.1016520108