quinta-feira, 22 de março de 2012

Mudança para tecnologias verdes pode iniciar guerras minerais

Redação do Site Inovação Tecnológica - 22/03/2012
Mudança para tecnologias verdes pode iniciar guerras minerais
O fornecimento dos elementos de terras raras pode gerar guerras, alertam pesquisadores. [Imagem: Peggy Greb/USDA]
Metais raros
É cada vez maior a preocupação com o uso de metais muito raros, essenciais aos equipamentos de alta tecnologia.
Segundo um estudo que acaba de ser concluído por pesquisadores do MIT (Massachusetts Institute of Technology), uma mudança em larga escala rumo a fontes de energia mais limpas pode colocar em risco o suprimento desses elementos, especialmente de dois metais da família das terras raras.
A família das terras raras é composta por 17 elementos, que vêm sendo usados em inúmeras aplicações de alta tecnologia, de aviões a lasers e sistemas de imageamento médico.
Dois deles, o disprósio e o neodímio, são os mais sensíveis à disseminação dessas novas tecnologias, garantem Randolph Kirchain e seus colegas.
Longa vida à mineração
O disprósio e o neodímio estão presentes sobretudo na fabricação de ímãs de última geração, presentes nas turbinas eólicas e nos carros elétricos.
Mas há riscos de falta de suprimento envolvendo também o lantânio, cério, praseodímio, samário, európio, gadolínio, térbio e ítrio.
As projeções indicam elevações na demanda dos diversos elementos que variam entre 600% e 2.600% nos próximos 25 anos, enquanto a produção tem crescido alguns poucos pontos percentuais ao ano.
Recentemente o Serviço Geológico do Reino Unido criou uma lista de risco dos metais mais raros da Terra.
O professor James Burnell, do Serviço Geológico do Colorado, vai mais longe, e chega a falar em "guerras comerciais".
"Há um equívoco no público, que confunde mudança para energias alternativas com um abandono da mineração, o que não pode ser feito," diz ele, lembrando que a desejada diminuição da exploração do petróleo e do gás natural nada tem a ver com a extração dos outros minerais, embora ambas sejam mineração.
Uma grande variedade de metais raros são necessários para fabricar também os painéis fotovoltaicos para energia solar, as células de combustível para uma sonhada economia do hidrogênio, e até baterias de alta capacidade para os veículos híbridos e elétricos.
Terras raras da China
Assim, todos os metais, os raros e os não-raros, terão que continuar sendo produzidos pela mineração - que pertence ao setor industrial, e não ao setor primário, outra confusão comum.
Ocorre que os depósitos minerais não escolhem fronteiras, e não se distribuem equanimemente entre os países. Na verdade, a maioria dos metais de terras raras estão hoje em uma condição de quase monopólio, em poder da China.
E a China está se preparando para construir geradores de energia eólica que chegam a 330 giga-watts. Apesar disso, pressões recentes dos países desenvolvidos, que já protocolaram uma queixa contra o país na Organização Mundial do Comércio pela diminuição das vendas de terras raras já tenham feito as autoridades chinesas anunciarem que estão revisando esses planos.
Se o projeto for levado adiante, isso exigirá cerca de 59 mil toneladas de neodímio para construir os ímãs, o que é mais do que a produção anual do país desse metal. Ou seja, sobrará pouco abastecer o resto do mundo, que sonha ainda, além da energia eólica, com os carros elétricos.
Novas minas ou novas decisões
Assim, segundo Burnell, guerras comerciais, geradas pela busca de novos suprimentos de minerais, estão no horizonte.
No entanto, estima ele, nem o público e nem os políticos parecem estar cientes do problema.
A saída, segundo o pesquisador, está no investimento em novas tecnologias para a extração desses metais raros de outros tipos de minérios, além da busca por novas minas.
Pesquisas indicam, por exemplo, que os leitos dos oceanos têm depósitos ricos em terras raras, enquanto trabalhos iniciais apontam no sentido da sintetização de materiais raros derivando-os de elementos mais abundantes.
O Brasil tem uma das maiores reservas de terras raras do mundo mas, como parece ter firmado pé na decisão de ser um país agropecuário, não as explora.
Bibliografia:

Evaluating Rare Earth Element Availability: A Case with Revolutionary Demand from Clean Technologies
Elisa Alonso, Andrew M. Sherman, Timothy J. Wallington, Mark P. Everson, Frank R. Field, Richard Roth, Randolph E. Kirchain
Environmental Science & Technology
Vol.: Article ASAP
DOI: 10.1021/es203518d

Biodiesel: Política atropelou tecnologia, diz presidente da Embrapa

Com informações da Agência Brasil - 20/03/2012

Vendedores de sonhos
Cerca de quatro anos após o governo estimular intensamente a produção da mamona e do pinhão-manso para fabricação de biodiesel, como forma de resolver o problema de renda dos produtores do Semiárido nordestino, o projeto ainda não vingou.
Segundo Pedro Arraes, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), houve uma precipitação em se lançar programas antes de um estudo completo sobre a viabilidade econômica, de sustentabilidade e social, além de pesquisas mais avançadas.
"A velocidade da política nem sempre é a velocidade da técnica", disse.
Para Arraes, as políticas públicas precisam respeitar o tempo da pesquisa.
"Não acredito que seja má intenção, é a vontade de resolver um problema. A Embrapa é vendedora de sonho. Então, às vezes a gente vai ao local e fala com uma plateia e a pessoa toma aquilo como pronto e já vira verdade, e não é feito estudo econômico, de sustentabilidade, social," explicou.
Mamona, pinhão-manso e dendê
No caso da mamona, ele explicou que um dos problemas foi a falta de capacitação dos pequenos agricultores para tirar a toxidade da planta.
"Falaram assim [para os agricultor]: você planta mamona que vai produzir. Não se combinou com os maiores atores, que são os pequenos produtores. Às vezes, essas políticas vêm de cima, como se tudo tivesse resolvido, e não está", acrescentou.
No caso do pinhão-manso, o problema se repetiu.
"Trouxeram uma planta que é silvestre e disseram que ia resolver o problema do Brasil. Tem gente que plantou 2 mil hectares e está abandonada. Não trabalharam a qualidade do óleo, a maturação [da planta] é totalmente desuniforme, como vai colher isso aí?" indagou Arraes.
Um exemplo de programa bem estruturado, segundo ele, é o do dendê para a produção de óleo.
"Esse é um programa que nasceu com política de crédito associada à técnica e ao zoneamento", disse.
Segundo o presidente da Embrapa, os produtores de dendê da Região Norte se associaram e fecharam contratos com empresas que se comprometeram a comprar todo o produto.
Arraes destacou ainda os estudos sobre combustível florestal.
Segundo ele, o metanol da madeira pode ser uma alternativa, principalmente para os pequenos produtores, onde a agroenergia ainda é tida como desafio.
"Temos uma palmeira, a macaúba, que é de terras altas, tem 40% de óleo e é bastante rústica. Esta pode ser uma alternativa interessante para o pequeno produtor. Mas, ainda está sendo estudado. Depois que acharmos a tecnologia, temos que pensar em que território [o plantio] é viável, que tipo de organização será necessária e qual link com a iniciativa privada precisa ser feito para você esmigalhar isso", declarou.
Agricultura mais verde
Outro assunto abordado pelo presidente da Embrapa é o que ele chamou de "uma agricultura mais verde".
Segundo o presidente da estatal, Pedro Arraes, a contribuição da Embrapa para o projeto de sustentabilidade do setor, é, principalmente, oferecer subsídios científicos que permitam ao país ter clareza do que é a agricultura brasileira e de como funcionam seus sistemas produtivos.
A ideia é aproximar os estudos tecnológicos voltados para agricultura às metas de sustentabilidade ambiental definidas pelo governo federal.
"A gente tem que fazer esse inventário das tecnologias, com critérios científicos de sustentabilidade. O papel fundamental da Embrapa é colocar ciência nessas discussões, oferecendo parâmetros e ferramentas para que o produtor faça a escolha dele, pensando o ganho que pode ter a mais preservando água, por exemplo, e abrindo mercado para sustentabilidade nas três dimensões [social, econômica e ambiental]", destacou Arraes.
Nos últimos anos, a empresa tem sido alvo de críticas feitas por setores que questionaram os impactos de estudos polêmicos, como é o caso dos transgênicos.
Por outro lado, especialistas apontam a Embrapa como uma das grandes responsáveis pela poupança de recursos naturais do país.

Bateria de grafeno coleta energia termal do ambiente


Com informações da PhysicsWorld - 13/03/2012

Diagrama da célula termal de grafeno, que captura energia térmica do ambiente continuamente, sem nenhum recarregamento. [Imagem: Zihan Xu] 
Coletor de energia do calor
Cientistas da Universidade Politécnica de Hong Kong afirmam que ter inventado um novo tipo de gerador/coletor de energia que depende unicamente do calor ambiente para funcionar.
Embora o chamem de "bateria", os cientistas afirmam que seu dispositivo captura a energia termal de íons em uma solução e a converte em eletricidade - sem a necessidade de nenhum tipo de recarregamento.
A invenção poderá ser útil em uma série de dispositivos de colheita de energia, como a alimentação de implantes médicos ou de equipamentos portáteis, usando como fonte de energia o calor do corpo.
Mas, se a descoberta for confirmada, não parecem haver motivos que impeça que ela seja usada em larga escala, para a criação de fontes de energia ambientalmente amigáveis.
Energia dos íons
Quando em solução aquosa, a temperatura e pressão ambientes, os íons viajam a centenas de metros por segundo.
Isso significa que a energia termal desses íons pode atingir vários kilojoules por quilograma por grau de temperatura.
Mas têm sido poucas as pesquisas que tentam capturar essa energia e aproveitá-la de forma útil - transformando-a em eletricidade, por exemplo.
Zihan Xu e seus colegas afirmam ter conseguido isto conectando eletrodos de ouro e prata a uma tira de grafeno.
Eles relatam que seis dessas células colocadas em uma solução de íons de cloreto de cobre produzem uma tensão de até 2 Volts.
Isso é suficiente para acender um LED, o que é impressionante dadas as dimensões envolvidas.

Apenas seis células do coletor/gerador termal são suficiente para alimentar um LED. [Imagem: Zihan Xu]
Gerador contínuo
Mais impressionante ainda é o fato de que nem a solução de cloreto de cobre, assim como nenhum outro componente da bateria/gerador precisa ser substituído e nem recarregado.
Ao contrário das baterias de íons de lítio, que convertem a energia química em eletricidade, e precisam ser recarregadas, essa bateria/gerador de grafeno só depende do calor do ambiente para funcionar.
"A saída de nosso dispositivo é contínua, e ele funciona unicamente coletando a energia termal do entorno dos íons de cloreto de cobre. Ou seja, em teoria, ele funciona de forma ilimitada," disse Xu.
Célula termal de grafeno
Sendo assim, o aparelho funcionaria de forma mais parecida com uma célula solar, com a diferença que coleta a energia térmica, em vez da energia luminosa.
Os íons de cobre colidem continuamente com a fita de grafeno, deslocando seus elétrons.
Esses elétrons podem se combinar com os íons de cobre ou viajar através da fita de grafeno e sair pelos eletrodos, gerando a saída elétrica.
Esse é, na verdade, o caminho preferido dos elétrons, já que eles podem viajar muito mais rapidamente pelo grafeno do que pela solução iônica.
E o grafeno parece ser a parte essencial desse gerador/coletor de energia, já que experimentos com grafite e filmes de nanotubos de carbono não apresentaram os mesmos resultados.
O artigo descrevendo a descoberta ainda não foi publicado por uma revista científica, o que significa que esse novo gerador/coletor de energia termal ainda precisa de revisão e confirmação por outros cientistas.
Bibliografia:

Self-Charged Graphene Battery Harvests Electricity from Thermal Energy of the Environment
Zihan Xu, Guoan Tai, Yungang Zhou, Fei Gao, Kim Hung Wong
http://arxiv.org/abs/1203.0161

domingo, 11 de março de 2012

Lavoisier - Um pouco de história da ciência


A história da ciência é fantástica. Apresento um trecho do livro Breve história de quase tudo, onde o autor Bill Bryson relata fatos da vida desse notável cientista.
[...] No século XVIII a química ainda encontrava-se na era da Alquimia. Era preciso alguém de visão para trazer a química à era moderna, e foram os franceses que forneceram essa pessoa. Seu nome era Antoine-Laurent Lavoisier. Nascido em 1743, Lavoisier era membro da nobreza inferior (seu pai adquirira um título para a família). Em 1768, comprou uma participação numa instituição profundamente desprezada denominada Ferme Générale (Fazenda Geral), que coletava impostos e taxas em nome do governo. Embora o próprio Lavoisier fosse, segundo os relatos, brando e justo, a companhia para qual trabalhava não era. Para começar, ela não taxava os ricos, somente os pobres, e muitas vezes arbitrariamente. O que atraiu Lavoisier à instituição foi o fato de ela fornecer os recursos para ele seguir sua principal devoção: a ciência. No auge, sua renda pessoal atingiu 150 mil libras por ano – uns 20 milhões de dólares em moeda atual.
Três anos após embarcar em sua carreira lucrativa, ele casou-se com a filha de catorze anos de um de seus chefes. O casamento foi um encontro de corações e mentes. Madame Lavoisier era dotada de um intelecto incisivo e logo estava trabalhando produtivamente com o marido. Apesar das exigências do trabalho e de uma vida social agitada, eles conseguiam dedicar cinco horas à ciência quase todos os dias – duas de manhã e três à noite -, bem como os domingos inteiros, que chamavam de jour de bonheur (dia da felicidade). Lavoisier também conseguiu achar um tempo para ser o comissário da pólvora, supervisionar a construção de uma muralha ao redor de Paris para deter os contrabandistas, ajudar a criar o sistema métrico e ser um dos autores do Méthode de nomenclature chimique, que se tornou uma bíblia na padronização dos nomes dos elementos.
Como membro destacado da Academia Real de Ciências, exigia-se dele um interesse ativo e informado nos assuntos em voga: hipnotismo, reforma penitenciária, a respiração dos insetos, o suprimento de água de Paris. Foi nessa função que, em 1780, Lavoisier fez certas observações depreciativas sobre uma nova teoria da combustão submetida à academia por um cientista jovem e esperançoso. A teoria estava realmente errada, mas o cientista nunca o esqueceu. Seu nome era Jean-Paul Marat.
Algo que Lavoisier nunca fez foi descobrir um elemento novo. Numa época em que parecia que qualquer um com uma proveta, uma chama e certos pós interessantes conseguia descobrir algo novo – aliás, dois terços dos elementos ainda estavam por ser descobertos -, Lavoisier não conseguiu descobrir um sequer. Certamente não foi por falta de provetas. Lavoisier possuía 13 mil naquele que era, num grau quase absurdo o melhor laboratório particular existente.
Seu equipamento sofisticado foi bastante útil. Durante anos, ele e madame Lavoisier ocuparam-se de estudos extremamente rigorosos que exigiam medições exatas. Eles descobriram, por exemplo, que um objeto que se enferruja não perde peso – uma descoberta extraordinária. De algum modo, ao se oxidar, o objeto atraía partículas básicas do ar. Foi a primeira percepção de que a matéria pode ser transformada, mas não eliminada. Se você queimasse este livro agora, sua matéria se transformaria em cinza e fumaça, no entanto a quantidade líquida de matéria no universo continuaria a mesma. Isso se tornou conhecido com a conservação de massa, e foi um conceito revolucionário. Infelizmente, coincidiu com outro tipo de revolução – a Revolução Francesa -, e nela Lavoisier estava de um lado totalmente errado.
Além de membro da odiada Ferme Générale, ele havia entusiasmaticamente construído a muralha que cercava Paris – uma construção tão detestada que foi a primeira coisa atacada pelos cidadãos rebeldes. Explorando esse fato, em 1791, Marat, então uma voz proeminente da Assembléia Nacional, denunciou Lavoisier e sugeriu que já passara da hora de ele ser decapitado. Logo depois, a Ferme Générale foi fechada. Não decorreu muito tempo até Marat ser assassinado por uma jovem ressentida chamada Charlotte Corday, mas aí já era tarde demais para Lavoisier.
Em 1793, o Reinado do Terror, já intenso, atingiu o paroxismo. Em outubro, Maria Antonieta foi mandada para a guilhotina. No mês seguinte, Lavoisier foi detido. Em maio, ele e 31 colegas da Ferme Générale foram levados ante o Tribunal Revolucionário (numa sala de audiência onde se destacava o busto de Marat). Oito foram absolvidos, mas Lavoisier e os outros foram conduzidos diretamente à Place de La Revolucion (atual Place de La Concorde), local da guilhotina mais ativa da França. Lavoisier observou seu sogro ser decapitado, depois subiu à prancha e aceitou o seu destino. Menos de três meses depois, em 27 de julho, o próprio Robespierre foi despachado da mesma maneira e no mesmo lugar, e o Reinado do Terror rapidamente se encerrou.
Cem anos após sua morte, uma estátua de Lavoisier foi erguida em Paris e muito admirada, até que alguém observou que não se pareia nem um pouco com ele. Ao ser interrogado, o escultor admitiu que usara a cabeça do matemático e filósofo marquês de Condorcet – aparentemente ele tinha uma de reserva – na esperança de que ninguém notasse a diferença ou, se notasse, que não se importasse. No segundo aspecto ele tinha razão. A estátua de Lavoisier-mais-Codorcet foi deixada no mesmo lugar por meio século, até a Segunda Guerra Mundial, quando, certa manhã, foi levada embora e fundida como sucata.[...]

Fonte: BRYSON, B. Breve História de quase tudo. São Paulo. Companhia das Letras, 2005. P 108-110.

VENENOS OCULTOS


VENENOS OCULTOS
por Sarantuyaa Zandaryaa* (retirado da revista PLANETA Três Editora LTDA - Edição 474, março, 2012.)

Novas substâncias presentes em vários produtos de uso rotineiro - como remédios, artigos de higiene pessoal, e de limpeza - estão contaminando a água e o solo, num risco à saúde ainda pouco estudado.

*Sarantuyaa Zandaryaa é especialista do Programa de Gestão de Água Urbana e de Qualidade da Água da Unesco.

Mais de 60 milhões de substâncias orgânicas e inorgânicas foram documentadas pelo Registro da Sociedade Americana de Química, o mais completo banco de dados sobre produtos químicos no mundo. Todos os dias, 12 mil produtos químicos ingressam no mercado. Nesse universo em constante expansão, 49 milhões de produtos estão disponíveis comercialmente, mas menos de 1% deles é inventariado ou regulamentado.

O ciclo de vida desses compostos vai além do uso original. muitos de infiltram no solo, no ar, em rios e no mar. Além disso, pesquisas recentes indicam que elementos químicos não considerados historicamente contaminantes, presentes em produtos farmacêuticos, estão agora alcançando o ambiente. Como resultado, seres humanos e ecossistemas estão sendo continuamente expostos a novos contaminantes. Qual é a dimensão do problema e que tipo de ameaça ele coloca para a saúde e a natureza?

Ao longo do século 20, a indústria química mudou seu foco dos processos químicos pesados para a química orgânica. Esta apoiou-se originalmente no carbono e em outras substâncias produzidas por seres vivos, mas seu alcance, desde então ampliou-se e passou à incluir substâncias sintetizadas artificialmente, como plásticos e drogas. O extraordinário progresso na fabricação de drogas e nos processos industriais eliminou doenças e tornou nossa vida bem mais confortável. Mas também deixou a sociedade dependente de uma tecnologia que envolve uma miríade de compostos químicos, atingindo todos os setores econômicos e a vida cotidiana.

Entre os contaminantes emergentes há vários produtos químicos de uso diário. Eles incluem artigos farmacêuticos e de higiene pessoal, pesticidas, insumos químicos industriais e domésticos, metais, surfatantes (compostos que tornam as substâncias mais solúveis em água ou óleos, presentes em detergentes, inseticidas e xampus), aditivos e solventes industriais. Muitos desses itens são tóxicos para o homem e os animais aquáticos.

Dentro desses produtos há um grupo de risco dos desreguladores endócrinos, que interferem no sistema hormonal humano e animal. Entre esses estão vários compostos sintéticos usados como ingredientes ativos em produtos farmacêuticos, hormônios naturais como fitoestrógenos (substancias estrogênicas originárias de plantas) e microestrogênicos (originários de fungos). Desreguladores endócrinos figuram em pesticidas, produtos químicos industriais e metais pesados. Aparecem também em medicamentos como os fitoestrógenos usados na proteção contra várias formas de câncer, doenças cardiovasculares e distúrbios cerebrais, bem como contra a osteoporose em mulheres pós-menopáusicas.

Produtos farmacêuticos e de cuidados pessoais, como cosméticos e sabonetes, também preocupam. Várias drogas ministradas a humanos e animais para fins terapêuticos e de diagnóstico têm sido detectadas em águas residuais e em rios, embora em níveis quase imperceptíveis. As mais comumente detectadas incluem analgésicos, cafeína, antibióticos, remédios redutores de colesterol e antidepressivos.
Xampus (acima) têm na sua composição produtos tóxicos ao homem. Se essas substâncias chegarem à água usada na agricultura (abaixo), os alimentos cultivados podem se tornar fonte de perigo.

Poluentes orgânicos persistentes têm sido amplamente reconhecidos como uma ameaça à saúde do homem e dos ecossistemas. Eles são usados como pesticidas ou no preparo de produtos industriais como solventes e cloreto de polivinia (PVC), bifenilas policloradas (PCBs) e dioxinas, bem como de dois pesticidas proibidos, clordano e diclorodifeniltricloretano (DDT). Embora os PCBs, o DDT e outros contaminantes tenham sido proibidos, seus resíduos permanecem no ambiente.

Os contaminantes emergentes são encontrados em concentrações variadas em águas residuais tratadas e não tratadas, em efluentes industriais e agrícolas e na água que escoa para rios, lagos e a costa. Os produtos farmacêuticos aparecem com maior destaque no esgoto não tratado, e os desreguladores endócrinos são detectados, sobretudo nas águas de superfície e subterrâneas.

Formas de Exposição

As pessoas podem ser expostas a esses contaminantes ao beber água, já que as instalações de tratamento não são projetadas para removê-los. como as águas residuais também são usadas para irrigar culturas em áreas secas, moradores dessas regiões podem ser atingidos pela agricultura.

Os contamiantes emergentes também podem estar penetrando em nosso corpo, via mariscos e peixes. Como a maioria desses produtos é persistente e solúvel em godura, provavelmente dura longo tempo no ambiente aquático, acumulando-se no tecido adiposo de peixes e animais desses ecossistemas. Substâncias tóxicas persistentes e metais pesados como chumbo têm sito encontrados em frutos do mar e peixes de lagos e áreas costeiras ao redor do mundo, como o Mar báltico, os Grandes Lagos (entre os EUA e o Canadá) e o litoral do sudeste da Ásia.

Há evidências de que muitos produtos reconhecidos como contaminantes emergentes podem causar tumores cancerígenos, defeitos congênitos e distúrbios do desenvolvimento, além de afetar a fertilidade e a saúde reprodutiva. Acredita-se que os desreguladores endócrinos causam infertilidade e perturbam o desenvolvimento sexual. Há relatos de casos de feminização dos machos e masculinização dde fêmeas em humanos e animais.

Observaram-se mudanças nas proporções entre sexos de espécies de perca de rios da Europa. Descobriu-se também que peixes machos a jusante de instalações de tratamento de água residuais produzem proteída de ovos femininos em rios do Reino Unido. Debate-se ainda se a alta prevalência de doenças e malformação larvais em peixes do nordeste do Atlântico tem relação com a poluição marinha. Estudos buscam determinar se há um nexo casual entre a obesidade humana e a presença de desreguladores endócrinos em peixes e outras fontes de alimento: os hormônios entram no alimento do gado e das aves, por exemplo, para pôr mais carne em seus ossos.

Três exemplos de onde encontrar novos contaminantes químicos (de cima para baixo): esgoto não tratado, anchovas do Mar Báltico, rio poluído por um metal pesado; o cobre.

Embora se saiba pouco sobre os efeitos de resíduos farmacêuticos na vida aquática selvagem, uma pesquisa mostrou que analgésicos, drogas anti-inflamatórias e agentes reguladores de gordura no sangue encontrados em pílulas anti-colesterol podem ser tóxicos para o zoo-plâncton, o fitoplâncton e os peixes, dado seu prolongado nível de exposição. suspeita-se que os antidepressivos afetam o desenvolvimento, a desova e o comportamento de alguns crustáceos e moluscos.

Impactos Não Avaliados

Se os efeitos de cada um dos contaminantes emergentes na saúde do homem e dos ecossistemas foram avaliados apenas marginalmente, seus efeitos cumulativos no ambiente aquático e no corpo humano ainda nem se quer foram estudados, pois não são considerados poluentes prioritários. O efeito colateral desse fato é o monitoramento da água potáveis e da residual exclui esses contaminantes dos testes, mesmo que a tecnologia para isso exista.

Pelas razões descritas, a amplitude da exposição humana a produtos farmacêuticos e químicos na água potável não foi avaliada, apesar das preocupações sobre os efeitos de longo prazo da exposição as drogas, sobretudo em fetos, crianças e pessoas com a saúde debilitada. Também preocupa o fato de que a exposição constante a antibióticos pode reduzir a eficácia dessas drogas no combate a bactérias e patógenos, exigindo uma nova geração de antibióticos.



As instalações de tratamento de água não são projetadas para remover contaminantes emergentes.

Políticas e regulações são urgentemente necessárias para controlar os elementos químicos que poluem nossa água hoje e prevenir que uma nova geração de remédios os utiliza no futuro. Dadas as incertezas científicas quanto aos efeitos na saúde e no ambiente dos contaminantes emergentes, as abordagens baseadas tanto no princípio de precaução quanto em medidas de remediação precisa, ser adotadas - estas ultimas sejam menos eficazes do que as preventivas, em virtude dos altos custos envolvidos na remoção de poluentes após eles terem sido lançados na água.

A situação é mais urgente nos países em desenvolvimento. Assim como a economia baseada em tecnologia e consumo cresce nesses países, expandem-se a fabricação e o uso de produtos químicos. Várias industrias do Hemisférios Norte, entre elas empresas químicas, mudaram suas operações para o Sul, onde se sabe menos sobre os riscos químicos e as regulações (quando existem) são fracas. Grandes volumes de águas residuais e efluentes industriais com pouco ou nenhum tratamento estão sendo despejados em águas superficiais e zonas costeiras desses países a cada dia.

Um dos principais objetivos do novo projeto da Unesco dedicado ao tema será ajudar os países em desenvolvimento a reforçar seus conhecimentos sobre contaminantes emergentes a partir de um fórum científico de intercâmbio, colaboração e compartilhamento de experiências, por meio de seminários e workshops. Políticas e regulações também têm de ir além do setor da água para enfrentar a fonte da poluição. São necessárias medidas que garantam a produção, o uso e o descarte limpo, seguros e sustentáveis de todos os produtos químicos.

Isso pode significar políticas para reciclar produtos farmacêuticos, investir em agricultura orgânica ou evitar a descarga de substâncias químicas perigosas nos corpos d'água, por exemplo. O uso de substâncias químicas mais preocupantes deve ser severamente restringido, - adotando-se o princípio de substituição por ações mais seguras, quando disponíveis. Paralelamente, autoridades e consumidores devem estar cientes do que podem fazer para usar e dispor de produtos farmacêuticos e químicos com segurança. Ao promover a investigação nessa área, a Unesco espera desenvolver soluções apropriadas no combate a tais poluentes.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Adesivo inspirado nos pés das lagartixas torna-se realidade


Redação do Site Inovação Tecnológica - 21/02/2012
Adesivo seco e reversível inspirado nos pés das lagartixas
Não olhe para a TV, olhe para a estrutura onde ela está pendurada, com o adesivo seco colocado sobre uma placa de vidro. [Imagem: UMass Amherst]

Pelas paredes
Depois de anos de pesquisas, a promessa de um super adesivo inspirado nos pés das lagartixas parece ter finalmente se cumprido.
O produto foi batizado de GeckSkin, uma união dos termos gecko (lagartixa) e skin (pele).
O protótipo do material é capaz de sustentar mais de 300 quilogramas em um vidro liso, pode ser retirado com um puxão na direção adequada, sem deixar qualquer vestígio, e pode ser reaplicado inúmeras vezes.
Adesivo seco reversível
A alta capacidade, a reversibilidade e o fato de operar inteiramente a seco, transformam o super adesivo em uma opção para a fixação de aparelhos de TV ou monitores de computador nas paredes, afirmam os pesquisadores, de olho em um nicho de mercado.
Mas a verdade é que o adesivo seco e super forte poderá ser utilizado em uma gama virtualmente inumerável de situações.
"Nosso protótipo da Geckskin tem cerca de dez centímetros quadrados e conseguiu manter até 317 quilogramas presos a uma superfície de vidro liso," disse Alfred Crosby, membro da equipe.
A capacidade do adesivo medida no experimento foi de (29.5 N cm-2).
Outra vantagem incomparável do novo adesivo é que ele pode ser retirado com um leve puxão, e ser reaplicado e retirado tantas vezes quantas sejam necessárias, sem deixar nenhum resíduo - exatamente como os pés das lagartixas.
Adesivo seco e reversível inspirado nos pés das lagartixas
O adesivo seco e reversível foi fabricado inteiramente com materiais disponíveis no mercado. [Imagem: Bartlett et al./Advanced Materials]
Complexidade de lagartixa
Tentativas anteriores de reproduzir artificialmente a enorme capacidade adesiva dos pés das lagartixas baseavam-se nos pêlos microscópicos, que grudam com base nas forças de van der Waals.
Mas ninguém teve sucesso até agora em reproduzir essas estruturas em larga escala.
Crosby e seus colegas afirmam que os pêlos não são necessários para explicar o poder de adesão dos pés das lagartixas.
Segundo eles, é necessário levar em conta a complexidade do pé inteiro da lagartixa, o que inclui tendões, ossos e pele, que trabalham em conjunto para gerar a adesão reversível.
"É um conceito que não foi levado em conta em outras pesquisas e estratégias de projeto, um conceito que vai abrir novas avenidas de pesquisa na adesão reversível," disse Crosby.
Biomimetismo
O protótipo consiste em um adesivo integrado com uma espécie de almofada, simulando a parte mole do pé da lagartixa, tudo sobre um tecido firme, que permite que o adesivo seja forçado sobre a superfície, para maximizar o contato.
Além disso, como no pé do animal, essa pele artificial de lagartixa é tecida em um tendão sintético, "um desenho que desempenha um papel crucial na manutenção da firmeza e da liberdade rotacional," escrevem os cientistas.
Bibliografia:

Looking Beyond Fibrillar Features to Scale Gecko-Like Adhesion
Michael D. Bartlett, Andrew B. Croll, Daniel R. King, Beth M. Paret, Duncan J. Irschick, Alfred J. Crosby
Advanced Materials
Vol.: 24, Issue 8, pages 1078-1083
DOI: 10.1002/adma.201104191