segunda-feira, 20 de junho de 2011

A opção nuclear vai sobreviver ao acidente de Fukushima? artigo de José Goldemberg

Publicado em junho 1, 2011 por HC

Nem todas as novas tecnologias, por mais inovadoras que pareçam, resistem aos testes do tempo. O desastre nuclear no Japão, em março deste ano, forçou à reanálise da opção nuclear no mundo todo. Já os acidentes de Three Mile Island, nos EUA, em 1979 e de Tchernobil, na Ucrânia, em 1986 haviam praticamente paralisado a expansão nuclear após 1990.
As razões para tal são complexas, mas se devem principalmente ao fato de a energia nuclear ter se tornado muito cara comparada com outras opções e ao fato de que populações de vários países decidiram não correr os riscos de acidentes nucleares-causados não apenas por terremotos e tsunamis.
Acidentes nucleares, quando ocorrem, podem provocar um número pequeno de mortes, como diz a indústria nuclear, mas a radiação atinge grandes populações e provoca danos fatais. Esse é um risco diferente do que é assumido em uma mina de carvão. A população que vive nas imediações de reatores como Fukushima não é coberta por seguros. Está sujeita a ser vítima involuntária de danos que podem causar sofrimento e morte por anos após o acidente.
Por essa razões, os custos e riscos da energia nuclear estão sendo reavaliados. A Alemanha, onde 22% da eletricidade se origina da energia nuclear, já decidiu desativar seus 17 reatores até 2022. Suíça e Bélgica tomaram a mesma decisão. O Japão já eliminou seus planos de expansão. Nos EUA, o início da construção de dois reatores foi cancelado. Isso significa maior esforço para gerar eletricidade com fontes renováveis ou utilizá-la de maneira mais eficiente, o que não só é possível como é economicamente atraente.
A decisão da Alemanha – mais radical do que o esperado – terá consequências importantes no resto do mundo, principalmente nos países em desenvolvimento. O governo brasileiro anunciou que reavaliará a segurança dos reatores no País e dos planos de expansão. Esperamos que o faça logo e siga o que o bom senso indica.
Não há razão nenhuma para que um País como o nosso, com amplos recursos hidrelétricos e biomassa, se coloque na contramão do que ocorre no mundo e invista recursos desproporcionais numa opção tecnológica que talvez não sobreviva.
*José Goldemberg é professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP.
Artigo originalmente publicado na Folha de S.Paulo.
EcoDebate, 01/06/2011

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